terça-feira, 11 de março de 2014
'Temos dificuldade de exercer nossa função', diz agente penitenciário
Entre os que participaram de uma manifestação na manhã desta segunda-feira (10), no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Suzano, estava um profissional que atua na área há 22 anos. Por receio, ele prefiriu não se identificar, mas no dia em que a categoria começou uma greve, ele contou como é trabalhar no local.
O agente está no CDP de Suzano há apenas um ano e meio. Tempo suficiente para presenciar cenas de risco. "A situação pior foi quando cerca de 110 presos fizeram um agente refém. Foram cinco horas e meia de negociação para que ele fosse liberado."
Durante a carreira, o agente passou por centros de detenção como o da Chácara Belém e de Franco da Rocha, além de presídios como a Casa de Detenção de São Paulo, o Carandiru, onde trabalhou por cinco anos. Por isso, não teve como evitar um dia estar do outro lado, como 'preso', na mãos de detentos. "O índice de perigo no nosso trabalho é grande independentemente do preso. Já passei apuros e por algumas rebeliões. Já fiquei 12 horas refém e já tirei amigos com arma no pescoço das mãos de presos", diz.
Profissão de risco
A ida para um centro de detenção veio de forma inesperada na vida do agente. Sem emprego, ele prestou concurso público na esperança de se firmar profissionalmente. Uma função feita hoje com mais habilidade e até carinho. "Fiz o concurso porque precisava de um emprego público. Ai você passa e vai se acostumando com a ideia de trabalhar aqui e vai pegando até amor pelo que faz", diz. "Independentemente do que faça você vai se acostumando com o serviço e pegando habilidade em lidar com o preso. Hoje gosto de fazer o que faço e já já vou me aposentar."
Mesmo estando perto de deixar a profissão, Osvaldo fica indignado com a forma que os agentes são tratados. Falta de segurança e de condições de trabalho são apenas algumas reclamações da categoria que se arrisca todos os dias nos pavilhões. "O agente é quem coordena tudo em uma unidade. O preso só sai da tranca pela minha mão, ele é liberado para o sol também só pela minha mão e todas as vezes que ele sai do CDP, nós somos os acompanhantes legais do preso de acordo com a lei", afirma. "Tudo na unidade é difícil desde o salário até a condição de segurança e alimentação. Temos uma dificuldade grande de exercer nossa função. Quem é novo chega e fica amedrontado", conta.
Na unidade em Suzano, Osvaldo afirma que um agente fica responsável por cerca de 300 presos. Já são em média 2171 detentos no CDP, sendo que a capacidade do local é para 768, de acordo com o sindicato da categoria. "As condições de trabalho são bem difíceis porque deveríamos estar em número maior. A unidade não tem condição de trabalho como por exemplo uniformes adequados. Estamos com o triplo da população aqui permitida e o risco que a gente corre é muito grande. Somos reféns no meio de cerca de 300 detentos quando vamos trancar uma cela. Estamos sozinhos lá e trabalhamos desarmados justamente para coisa pior não ocorrer. Se eles pegam a gente não temos como sair", reforça o agente.
Greve
Os funcionários do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Suzano entraram em greve na manhã desta segunda-feira (10). Segundo o Sindicato dos Agentes Penintenciários do Estado de São Paulo (Sindasp), apenas 30% do serviços do CDP de Suzano funcionaram nesta segunda. Atividades essenciais como alimentação dos presos, saúde e banho de sol foram mantidos. Porém, cartas, jumbo (alimentos e produtos de higiene que as famílias levam para os detentos), novos presos e também as saídas dos internos para audiências em fóruns não foram permitidos.
Com faixas, bandeiras e uniformizados os agentes penitenciários impediram a entrada de qualquer pessoa ou carro. Muitos familiares foram pegos de surpresa com a notícia de greve e consequentemente de suspensão de alguns serviços.
A ajudante geral Danielle da Silva mora em Itaquaquecetuba e nesta segunda tentou ir ao CDP de Suzano para fazer a credencial para visitar o marido preso há um mês. "Desde que ele foi preso não falei com ele. Tinha a esperança de conseguir resolver isso hoje para na quinta trazer o jumbo. Ele estão sem nada aí. Fui pega de surpresa". A ajudante disse que teve que trocar o horário no trabalho para tentar resolver a situação do marido. "Foi viagem perdida. Agora tenho que voltar correndo para conseguir chegar ao trabalho."
O diretor do Sindasp, Ednei Costa da Silva afirma que o motivo principal da greve é a falta de correção salarial, além das condições de trabalho e plano de carreira. "A greve é por tempo indeterminado. Queremos sentar para negociar um aumento", diz.
A Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) não informou o número de agentes que aderiram à greve. De acordo com a SAP, desde 6 de março os presidentes de todos os sindicatos que atuam no sistema prisional paulista têm conhecimento de que foi agendada para terça-feira (11) uma reunião na Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento. O objetivo é discutir a pauta apresentada pela categoria, informou a secretaria.
Segundo o sindicato, também ocorreram paralisações na unidade em 2004 e 2006.
fonte: G1 Mogi e Suzano
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