Com
A Gente, que será lançado apenas em 2014, o diretor Aly Muritiba fecha a
sua "trilogia do cárcere". O longa integra a programação do Olhar de
Cinema - Festival Internacional de Curitiba, que termina hoje. Os dois
primeiros filmes do tríptico - dois curtas - foram sucessos absolutos e
deram projeção a este ex-agente penitenciário baiano, radicado em
Curitiba. A Fábrica participou de 100 festivais e recebeu 62 prêmios.
Com O Pátio, Aly foi um dos dois únicos representantes brasileiros em
Cannes, este ano.
"A
realidade carcerária é muito complexa para ser abordada num único
filme", diz Muritiba ao Estado. "Por isso, fiz três, sobre pontos de
vista diferentes. Em A Fábrica, o da família dos presos; em O Pátio, o
dos próprios detentos; e, em A Gente, o dos agentes penitenciários."
Essa
temática é fruto da experiência profissional de Muritiba, que saiu do
interior da Bahia, foi tentar a sorte em São Paulo, estudou História na
USP e acabou vindo para Curitiba apaixonado por uma paranaense com quem
está casado. Entrou na carreira de agente penitenciário por acaso.
"Prestei concurso, entrei e vi que era uma profissão que me permitia
estudar cinema em outro período." Trabalhou sete anos no sistema
penitenciário paranaense, realizou o sonho de se tornar cineasta e pediu
afastamento não remunerado para fazer seus filmes. Mas, para realizar A
Gente, pediu reintegração. "Não seria possível fazer o longa sem estar
no local, convivendo com meus companheiros de trabalho."
Esses
colegas estiveram na primeira sessão do filme, a mesma vista pelo
Estado. Riram e brincaram ao se verem na tela grande do Espaço Itaú de
Cinema. Mas também se emocionaram ao rever situações tensas, como a do
preso que grita e exige transferência, obviamente alterado pelo uso de
drogas. Outros presos pedem analgésicos ou sedativos porque não
conseguem dormir. Não há remédios. Nem médicos para atender a quase mil
detentos empilhados em celas. Apenas uma assistente de enfermagem. "É um
barril de pólvora, que o filme mostra com muita fidelidade", comenta o
agente penitenciário Ivanney Lobo.
Sem
traço de sensacionalismo, A Gente retrata sem piedade um sistema
carcerário superlotado, carente de recursos e sem proposta realista de
ressocialização dos detentos. Os agentes aparecem com seus nomes reais,
em situações ora verídicas ora encenadas. O "ator" principal é Jefferson
Walkiu que, na vida civil, é também pastor protestante. Era, na
ocasião, chefe de inspetoria da equipe Alfa num presídio de São José dos
Pinhais. O filme, na fronteira entre o documentário e a ficção, deve
ser uma bomba quando lançado.
Fonte: Estadão
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