quinta-feira, 31 de maio de 2012

Agente Penitenciário entra armado em escola

Uma linha tênue separou o que foi mais um caso de violência nas escolas bauruenses de uma verdadeira tragédia. Na manhã de ontem, um homem se envolveu em uma briga com vários alunos na Escola Estadual José Viranda, localizada na Vila Giunta.

O problema é que este homem, que seria namorado de uma funcionária e trabalha como agente penitenciário, estava armado com um revólver.

A briga ocorreu por volta das 11h e teria começado no banheiro da escola. De acordo com os adolescentes, o agente penitenciário (os nomes dos envolvidos foram preservados na reportagem) entrou no banheiro e começou a falar alto com os jovens, dizendo que eles não ofenderiam mais ninguém.
 
 
O motivo da bronca seria que, horas antes, um dos alunos teria se desentendido com uma funcionária da escola. Ela seria namorada do agente penitenciário.
Enquanto o homem supostamente intimidava os dois alunos, outro jovem, de 15 anos, teria entrado e sido encurralado em um dos boxes. O jovem relata que ter levado um tapa no peito.
 
 
Neste momento, vários outros garotos foram ver o que ocorria no banheiro. Um deles conta que esbarrou no homem e foi quando a confusão começou. “Ele segurou em mim e eu segurei no pescoço dele. Ele me deu um soco nas costas e outros no meu rosto. Nisso, eu também acertei ele”, contou o garoto, com marcas na face. De acordo com o que a reportagem apurou, outros alunos também entraram em luta corporal.
 
 
A Polícia Militar (PM) foi acionada e várias viaturas foram enviadas para a escola. A preocupação maior era com a arma que o agente penitenciário carregava. Os adolescentes confirmam o fato. Segundo eles, após a briga ter sido apartada, o agente teria levantado a camiseta e mostrado o revólver em sua cintura.
 
 
Neste gesto, ele teria sido contido por funcionários do local, incluindo sua namorada. Em nenhum momento, de acordo com os alunos, o agente teria sacado a arma de fogo.
 
 
Tanto ele quanto alguns dos adolescentes envolvidos na confusão foram encaminhados ao Plantão da Polícia Civil. Lá, os jovens, já acompanhados dos familiares, sustentaram suas versões.
 
 
O funcionário público, que foi ouvido no registro, não quis conceder entrevistas. Ele realmente estava com escoriações na face. A diretora da escola, que também esteve no plantão, não conversou com a reportagem, limitando-se a dizer que a situação ainda seria averiguada.
 
 
Censurado
 
 
A reportagem esteve na escola, que estava com os portões fechados, por volta do meio-dia e acompanhou a grande movimentação de policiais, alunos e familiares (leia mais abaixo). No local, conversou com a PM, que disse não saber de detalhes sobre a arma.
 
 
Durante todo o dia, o JC aguardou para conversar com o delegado que registrou o caso. No fim da tarde, entretanto, o boletim de ocorrência (BO) do caso foi censurado pela Polícia Civil a pedido dos funcionários da escola.
 
 
Porém, de acordo com o que o JC apurou com a família dos adolescentes, no registro, o agente penitenciário disse que a arma poderia ter sido visualizada pelos jovens durante a briga. Assim, ele não negou estar armado dentro da escola. Todos os envolvidos foram liberados.
 
 
Entrada liberada
 
 
A Diretoria Regional de Ensino de Bauru confirmou, em nota emitida pela assessoria de comunicação, que o homem realmente teve a entrada liberada na Escola Estadual José Viranda por uma das funcionárias da unidade, que seria sua namorada.
 
 
De acordo com a assessoria, assim que percebeu a discussão no banheiro masculino, a direção da unidade acionou imediatamente a Ronda Escolar. “Cabe salientar que a escola conta com um sistema de câmeras de segurança e que as gravações foram disponibilizadas à polícia”, apontou.
 
 
Na mesma nota, a Diretoria Regional prometeu que uma equipe de supervisores da diretoria de ensino visitará a unidade hoje para averiguar possíveis responsabilidades da funcionária em questão.
 
 
Sem resposta
 
 
A assessoria de comunicação da Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo (SAP) foi acionada na tarde de ontem para se pronunciar sobre o agente penitenciário envolvido no problema. Até o fechamento desta edição, porém, não houve qualquer resposta.
 
 
A reportagem também questionou a SAP sobre procedimentos de porte de armas de fogo destes agentes, entretanto, mais uma vez, a assessoria de comunicação não retornou. Como o caso foi censurado, não se sabe ainda se ele tinha a posse e o porte da arma.
 
 
Outro caso terminou no PS
 
 
A violência escolar continua preocupando, tanto que o tema é alvo de uma campanha da Diretoria Regional de Ensino de Bauru com o apoio do JC (leia mais na página 9). Para se ter uma ideia, menos de duas horas antes do ocorrido na Vila Giunta, outro caso foi registrado. Desta vez, o palco foi a Escola Estadual Walter Barreto Melchert, no Núcleo Octávio Rasi.
 
 
De acordo com o boletim de ocorrência (BO) - que também foi censurado pela Polícia Civil e obtido pela reportagem junto aos envolvidos -, policiais militares foram acionados à escola, onde funcionários relataram uma briga generalizada entre os alunos.
 
 
Ainda de acordo com o BO, vários dos envolvidos saíram com lesões leves. Um deles, de 16 anos, teria sido levado ao Pronto-Socorro Central (PSC) com dores na barriga. A escola iria tomar atitudes administrativas sobre o caso.
 
 
Nota oficial da Secretaria da Educação expõe fragilidade da segurança escolar
 
 
No dia 7 de abril do ano passado, Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, invadiu a Escola Municipal Tasso da Silveira, localizada no bairro de Realengo, no Rio de Janeiro, e chocou o país. Ele matou doze alunos, com idades entre 12 e 14 anos, e depois cometeu suicídio. A tragédia levantou a questão sobre a facilidade de se entrar em escolas brasileiras. A mesma pergunta foi feita ontem em Bauru.
 
 
Pergunta que foi respondida de forma preocupante pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Por meio da assessoria de comunicação, a justificativa revela a fragilidade no tema. “Vale ressaltar que as escolas estaduais são equipamentos públicos abertos a alunos, pais, professores e comunidade”, apontou, em nota.
 
 
Como contraponto, foi informado que as unidades contam com o apoio de agentes de organização escolar que, entre outras funções, coordenam o fluxo dos estudantes. “Também há o reforço da Ronda Escolar da Polícia Militar nos períodos de entrada e saída de alunos”.
 
 
Caso assustou estudantes e familiares
 
 
Quando a reportagem esteve no local dos fatos, dezenas de estudantes e familiares estavam do lado de fora da escola juntamente com vários policiais militares. Os boatos sobre a arma e as agressões indignaram algumas mães.
 
 
“Eu tenho medo, queria mudar eles de escola, mas não sei se as outras são diferentes. Já botaram fogo, já agrediram a diretora, o que será que aconteceu dessa vez?”, questionava a dona de casa Stefani Lourenço, 27 anos, que tem quatro filhos na escola.
 
 
Quem também se assustou com a situação foi a diarista Priscila Ferreira, 29 anos, quando soube da versão relatada pelo filho de 12 anos, que cursa a 6º série. “Meu filho disse que o namorado de uma funcionária brigou com um menino e os amigos partiram para cima dele. Tenho medo dessas brigas que acontecem por aqui”, lamentou a bauruense.

fonte: JCNet
créditos: Vitor Oshiro e Marcele Tonelli

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