O problema é que este homem, que seria namorado de uma funcionária e trabalha como agente penitenciário, estava armado com um revólver.
A briga ocorreu por volta das 11h e teria começado no banheiro da escola. De acordo com os adolescentes, o agente penitenciário (os nomes dos envolvidos foram preservados na reportagem) entrou no banheiro e começou a falar alto com os jovens, dizendo que eles não ofenderiam mais ninguém.
O motivo da bronca seria que, horas antes, um dos alunos teria se desentendido com uma funcionária da escola. Ela seria namorada do agente penitenciário.
Enquanto o homem supostamente intimidava os dois alunos, outro jovem, de 15 anos, teria entrado e sido encurralado em um dos boxes. O jovem relata que ter levado um tapa no peito.
Neste momento, vários outros garotos foram ver o que ocorria no banheiro. Um deles conta que esbarrou no homem e foi quando a confusão começou. “Ele segurou em mim e eu segurei no pescoço dele. Ele me deu um soco nas costas e outros no meu rosto. Nisso, eu também acertei ele”, contou o garoto, com marcas na face. De acordo com o que a reportagem apurou, outros alunos também entraram em luta corporal.
A Polícia Militar (PM) foi acionada e várias viaturas foram enviadas para a escola. A preocupação maior era com a arma que o agente penitenciário carregava. Os adolescentes confirmam o fato. Segundo eles, após a briga ter sido apartada, o agente teria levantado a camiseta e mostrado o revólver em sua cintura.
Neste gesto, ele teria sido contido por funcionários do local, incluindo sua namorada. Em nenhum momento, de acordo com os alunos, o agente teria sacado a arma de fogo.
Tanto ele quanto alguns dos adolescentes envolvidos na confusão foram encaminhados ao Plantão da Polícia Civil. Lá, os jovens, já acompanhados dos familiares, sustentaram suas versões.
O funcionário público, que foi ouvido no registro, não quis conceder entrevistas. Ele realmente estava com escoriações na face. A diretora da escola, que também esteve no plantão, não conversou com a reportagem, limitando-se a dizer que a situação ainda seria averiguada.
Censurado
A reportagem esteve na escola, que estava com os portões fechados, por volta do meio-dia e acompanhou a grande movimentação de policiais, alunos e familiares (leia mais abaixo). No local, conversou com a PM, que disse não saber de detalhes sobre a arma.
Durante todo o dia, o JC aguardou para conversar com o delegado que registrou o caso. No fim da tarde, entretanto, o boletim de ocorrência (BO) do caso foi censurado pela Polícia Civil a pedido dos funcionários da escola.
Porém, de acordo com o que o JC apurou com a família dos adolescentes, no registro, o agente penitenciário disse que a arma poderia ter sido visualizada pelos jovens durante a briga. Assim, ele não negou estar armado dentro da escola. Todos os envolvidos foram liberados.
Entrada liberada
A Diretoria Regional de Ensino de Bauru confirmou, em nota emitida pela assessoria de comunicação, que o homem realmente teve a entrada liberada na Escola Estadual José Viranda por uma das funcionárias da unidade, que seria sua namorada.
De acordo com a assessoria, assim que percebeu a discussão no banheiro masculino, a direção da unidade acionou imediatamente a Ronda Escolar. “Cabe salientar que a escola conta com um sistema de câmeras de segurança e que as gravações foram disponibilizadas à polícia”, apontou.
Na mesma nota, a Diretoria Regional prometeu que uma equipe de supervisores da diretoria de ensino visitará a unidade hoje para averiguar possíveis responsabilidades da funcionária em questão.
Sem resposta
A assessoria de comunicação da Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo (SAP) foi acionada na tarde de ontem para se pronunciar sobre o agente penitenciário envolvido no problema. Até o fechamento desta edição, porém, não houve qualquer resposta.
A reportagem também questionou a SAP sobre procedimentos de porte de armas de fogo destes agentes, entretanto, mais uma vez, a assessoria de comunicação não retornou. Como o caso foi censurado, não se sabe ainda se ele tinha a posse e o porte da arma.
Outro caso terminou no PS
A violência escolar continua preocupando, tanto que o tema é alvo de uma campanha da Diretoria Regional de Ensino de Bauru com o apoio do JC (leia mais na página 9). Para se ter uma ideia, menos de duas horas antes do ocorrido na Vila Giunta, outro caso foi registrado. Desta vez, o palco foi a Escola Estadual Walter Barreto Melchert, no Núcleo Octávio Rasi.
De acordo com o boletim de ocorrência (BO) - que também foi censurado pela Polícia Civil e obtido pela reportagem junto aos envolvidos -, policiais militares foram acionados à escola, onde funcionários relataram uma briga generalizada entre os alunos.
Ainda de acordo com o BO, vários dos envolvidos saíram com lesões leves. Um deles, de 16 anos, teria sido levado ao Pronto-Socorro Central (PSC) com dores na barriga. A escola iria tomar atitudes administrativas sobre o caso.
Nota oficial da Secretaria da Educação expõe fragilidade da segurança escolar
No dia 7 de abril do ano passado, Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, invadiu a Escola Municipal Tasso da Silveira, localizada no bairro de Realengo, no Rio de Janeiro, e chocou o país. Ele matou doze alunos, com idades entre 12 e 14 anos, e depois cometeu suicídio. A tragédia levantou a questão sobre a facilidade de se entrar em escolas brasileiras. A mesma pergunta foi feita ontem em Bauru.
Pergunta que foi respondida de forma preocupante pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Por meio da assessoria de comunicação, a justificativa revela a fragilidade no tema. “Vale ressaltar que as escolas estaduais são equipamentos públicos abertos a alunos, pais, professores e comunidade”, apontou, em nota.
Como contraponto, foi informado que as unidades contam com o apoio de agentes de organização escolar que, entre outras funções, coordenam o fluxo dos estudantes. “Também há o reforço da Ronda Escolar da Polícia Militar nos períodos de entrada e saída de alunos”.
Caso assustou estudantes e familiares
Quando a reportagem esteve no local dos fatos, dezenas de estudantes e familiares estavam do lado de fora da escola juntamente com vários policiais militares. Os boatos sobre a arma e as agressões indignaram algumas mães.
“Eu tenho medo, queria mudar eles de escola, mas não sei se as outras são diferentes. Já botaram fogo, já agrediram a diretora, o que será que aconteceu dessa vez?”, questionava a dona de casa Stefani Lourenço, 27 anos, que tem quatro filhos na escola.
Quem também se assustou com a situação foi a diarista Priscila Ferreira, 29 anos, quando soube da versão relatada pelo filho de 12 anos, que cursa a 6º série. “Meu filho disse que o namorado de uma funcionária brigou com um menino e os amigos partiram para cima dele. Tenho medo dessas brigas que acontecem por aqui”, lamentou a bauruense.
fonte: JCNet
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